A Comissão Bíblico-Catequética da CNBB escolheu para ser estudado neste Mês da Bíblia o livro do profeta Miquéias com o tema “Para que n’Ele nossos povos tenham vida” e o lema “Praticar o direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com o teu Deus” (Mq 6,8).
Sabemos muito pouco a respeito da vida deste profeta. Porém, temos a seguinte informação: “Palavra do Yahweh dirigida a Miqueias de Morasti, no tempo em que Joatão, Acaz e Ezequias eram reis de Judá. Palavra que lhe foi dirigida em visão a respeito de Samaria e Jerusalém” (Mq 1,1). Miqueias (Mikhayhu em hebraico), significa “Quem é como Yahweh?”. Este nome é uma profissão de fé. Deixa perceber a sua profunda experiência de Deus.
O texto diz que Miqueias recebia a palavra de Yahweh “em visão” (cf. Mq 1,14). Receber a palavra em visão refere-se à visão de fé com que o profeta costuma olhar para Deus e para povo com o olhar do próprio Deus, “olhos penetrantes” (cf. Nm 24,3.15).
Mesmo tendo poucas informações diretas sobre a vida de Miqueias, é possível perceber alguns traços a respeito da personalidade de Miqueias. Eis alguns tópicos que transparecem nas suas profecias: a) Miqueias era um homem do povo. Ele era bem do interior, criado na roça; por isso, sua linguagem é simples e direta; b) Miqueias era um homem pé no chão. Ele alimentava a sua fé a partir das histórias que ele ouvia do seu povo, desde criança, em casa e nas celebrações; c) Miqueias era um homem de esperança. Ele lembra como era a vida do povo no passado, bem no começo, “nos dias da saída da terra do Egito” (Mq 7,15), e transforma a saudade em esperança; d) Miqueias vivia o conflito do povo. No meio do povo, havia gente que explorava os outros sem misericórdia, e havia gente que sofria a exploração, exploradores e explorados; e) Miqueias é porta-voz do povo oprimido. Na época, havia profetas que eram porta-vozes do governo, dos grandes, dos corruptos, dos ricos, que viviam do suborno e da propina. Miqueias, ao contrário, sente-se porta-voz do povo oprimido e, por isso, sente-se animado para denunciar o crime (Mq 3,8); f) Miqueias era um homem de fé. Para Miqueias, tudo vem de Deus (cf. Mq 7,18-20). Sua fé transparece nos sete capítulos do seu livro. Uma fé simples e pura.
Por fim, em meio aos vários aspectos teológicos do livro, Miqueias apresenta um Deus misericordioso (cf. Mq 7,18), que se revela em meio ao sofrimento, proveniente de inúmeras injustiças. Ele oferece às pessoas a possibilidade de conversão, na esperança de o povo viver eticamente a justiça e o direito. Com fidelidade restaura o resto de Israel, evidenciando a esperança messiânica, afirmando que que de Belém de Éfrata “sairá aquele que governará Israel” (Mq 5,1). O evangelista Mateus (cf. 2,6) aplica essa passagem a Jesus, o Rei-Messias, que nasceu numa cidade insignificante e que nem aparece entre as cidades de Judá (cf. Js 15; Ne 11).
Autor: Padre Paulo Nunes de Arauho é graduado em Filosofia pelas Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (1983) e em Teologia pelo Studium Theologicum Claretianum, afiliado à Pontifícia Universidade Lateranense de Roma e agregado à Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1988). Mestrado em Teologia Dogmática com Concentração em Estudos Bíblicos pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, SP (1999). É autor do livro Conhecer e Praticar a Palavra de Deus. Laureado em Roma, no Vaticano (2007), com o prêmio de “Inteligência e Sabedoria”. Nomeado canonicamente, em 16 de Julho de 2015, Capelão do Hospital Regional de Presidente Prudente "Doutor Domingos Leonardo Cerávolo", por Dom Benedito Gonçalves dos Santos, bispo diocesano da Diocese de Presidente Prudente. E-mail: paulo_naraujo@hotmail.com