O 3° domingo do Advento é tradicionalmente chamado, conforme a antífona de entrada gregoriana, em latim, Gaudete (= “alegrai-vos”). Neste espírito é que devemos contemplar os elementos da liturgia: a 1ª leitura, mais uma “utopia” de Isaías (cf. os dois domingos anteriores), que tem seu correspondente no evangelho (os cegos e os coxos curados: a obra do Messias); e o salmo responsorial, cantando a bondade de Deus que abre os olhos aos cegos.
Na 2ª leitura, a razão da alegria é um pouco diferente. A expectativa messiânica do Antigo Testamento, já o sabemos (cf. 1° domingo), é a figura de nossa própria esperança: recordando a espera da primeira vinda preparamo-nos para a segunda. Ora, são Tiago nos ensina a perseverar até a segunda vinda, com a paciência do lavrador que aguarda a chuva. Isso não é fatalismo, mas perseverança, constância: temos diante dos olhos a inefável proximidade do Senhor que é nossa alegria.
O povo cristão é um povo que espera (oração do dia). Pede que o Natal seja um dia de alegria, semelhante à do Batista quando reconheceu em Jesus o Messias (evangelho) - que seja um “aperitivo” da alegria do encontro definitivo. Perdoado o pecado (oração final), o Natal, como toda eucaristia, apresenta-se como festa escatológica, antecipação do Natal eterno: Emanuel, “Deus conosco” para sempre.
A liturgia de hoje é profundamente cristocêntrica. Se convém alegrar-nos e não ter medo diante do cumprimento do plano de Deus é porque sua manifestação definitiva em Jesus Cristo é uma revelação do amor e da ternura de Deus, como os anunciou o profeta. A perspectiva da plena realização suscita, portanto, alegria. A existência concreta de Jesus, sua boa mensagem aos pobres e abandonados, é revelação do Deus que nos chama e que vem a nós. E assim como João teve de considerar os sinais do Messias, nós também podemos contemplar as maravilhas que sob o impulso do Espírito de Jesus são operadas nas comunidades pobres e humildes: sinais de que Deus se aproxima cada dia mais.
A alegre esperança do cristão
A esperança que temos é a mola propulsora de nossa vida. Que é que você espera da vida? Como ela se tornaria melhor? Quem poderia ajudá-lo para isso? São essas as perguntas de todo o mundo e também do cristão, perguntas que a liturgia deste domingo suscita em nós.
Deus mesmo é a esperança do fiel. Ele não é um castigador, um fiscal de nossos pecados e nem mesmo da “desordem estabelecida” na sociedade em que vivemos. Ele não deseja castigar, mas transformar aquilo que está errado: ele vem salvar. Esta é a esperança anunciada pelos profetas (1ª leitura).
Com a vinda de Jesus começou irreversivelmente a realização desta esperança, a realização da profecia. João Batista não percebe bem o que Jesus está fazendo. Manda perguntar se ele é o Messias, ou se é para esperar outro (evangelho). Jesus aponta os sinais que ele está realizando: aquilo que os profetas anunciaram. Daí a conclusão: já não precisamos aguardar outro.
Ora, Jesus apenas iniciou. Implantou. A plantação deve ainda crescer. Com a paciência e a firmeza do agricultor, devemos esperar o amadurecimento de seu reino na História. Com o “sofrimento e paciência dos profetas que o anunciaram...(2ª leitura)
A esperança suscita em nós alegria confiante: Deus deu início à realização de seu projeto. Quando se olha com objetividade o que a palavra de Cristo já realizou no mundo, apesar das constantes recaídas de uma humanidade inconstante, reconhecemos que ela foi eficaz. Devemos também olhar para os sinais que se realizam hoje: a transformação impulsionada pelo evangelho de Cristo se reflete na nova consciência do povo, que assume sua própria história na construção de uma sociedade mais fraterna.
A esperança fundamenta uma firmeza permanente, confiante de que Deus erradicará o mal que ainda persiste.
A esperança exterioriza-se na celebração, expressão comunitária de nossa alegria e confiança.
A esperança do cristão é Jesus. Ele é aquele que havia de vir. Não precisamos ir atrás de outro messias, oferecidos pelo mundo do consumo, por promessas políticas ambíguas e assim por diante. Consumo e política são propostas humanas, e podemos servir-nos delas conforme convém, com liberdade. Mas o Messias vem de Deus; ele merece nossa adesão, nele podemos acreditar. Chama-se Jesus. Feliz quem não se deixa abalar em relação a ele (cf. Mt. 11,6)!
Esperamos que o amor e a justiça que Cristo veio trazer ao mundo, e nos quais somos chamados a participar ativamente, realizem o plano de Deus para a humanidade, desde já e para sempre, “assim na terra como no céu”.
Johan Konings "Liturgia dominical"