Queridos peregrinos,
temos Mãe. Agarrados a Ela como filhos, vivamos da esperança que assenta em
Jesus, pois, como ouvíamos na Segunda Leitura, «aqueles que recebem com
abundância a graça e o dom da justiça reinarão na vida por meio de um só, Jesus
Cristo» (Rm 5, 17). Quando Jesus subiu ao Céu, levou para junto do Pai celeste
a humanidade – a nossa humanidade – que tinha assumido no seio da Virgem Mãe, e
nunca mais a largará. Como uma âncora, fundeemos a nossa esperança nessa
humanidade colocada nos Céus à direita do Pai (cf. Ef 2, 6). Seja esta
esperança a alavanca da vida de todos nós! Uma esperança que nos sustente
sempre, até ao último respiro.
Com esta esperança,
nos congregamos aqui para agradecer as bênçãos sem conta que o Céu concedeu
nestes cem anos, passados sob o referido manto de Luz que Nossa Senhora, a
partir deste esperançoso Portugal, estendeu sobre os quatro cantos da Terra.
Como exemplo, temos diante dos olhos São Francisco Marto e Santa Jacinta, a
quem a Virgem Maria introduziu no mar imenso da Luz de
Deus e aí os levou a adorá-Lo. Daqui lhes vinha a força para superar
contrariedades e sofrimentos. A presença divina tornou-se constante nas suas
vidas, como se manifesta claramente na súplica instante pelos pecadores e no
desejo permanente de estar junto a «Jesus Escondido» no Sacrário.
Nas suas Memórias
(III, n. 6), a Irmã Lúcia dá a palavra à Jacinta que beneficiara duma visão:
«Não vês tanta estrada, tantos caminhos e campos cheios de gente, a chorar com
fome, e não tem nada para comer? E o Santo Padre numa Igreja,
diante do Imaculado Coração de Maria, a rezar? E tanta gente a rezar com ele?»
Irmãos e irmãs, obrigado por me acompanhardes! Não podia deixar de vir aqui
venerar a Virgem Mãe e confiar-lhe os seus filhos e filhas. Sob o seu manto,
não se perdem; dos seus braços, virá a esperança e a paz que necessitam e que
suplico para todos os meus irmãos no Batismo e em humanidade, de modo especial para
os doentes e pessoas com deficiência, os presos e desempregados, os pobres e
abandonados. Queridos irmãos, rezamos a Deus com a esperança de que nos escutem
os homens; e dirigimo-nos aos homens com a certeza de que nos vale Deus.
Pois Ele criou-nos
como uma esperança para os outros, uma esperança real e realizável segundo o
estado de vida de cada um. Ao «pedir» e «exigir» o cumprimento dos nossos
deveres de estado (carta da Irmã Lúcia, 28/II/1943), o Céu desencadeia aqui uma
verdadeira mobilização geral contra esta indiferença que nos gela o coração e
agrava a miopia do olhar. Não queiramos ser uma esperança abortada! A vida só
pode sobreviver graças à generosidade de outra vida. «Se o grão de trigo,
lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo
12, 24): disse e fez o Senhor, que sempre nos precede. Quando passamos através
dalguma cruz, Ele já passou antes. Assim, não subimos à cruz para encontrar
Jesus; mas foi Ele que Se humilhou e desceu até à cruz para nos encontrar a nós
e, em nós, vencer as trevas do mal e trazer-nos para a Luz.
Sob a proteção de
Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o
verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir
novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária,
acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor.