Evangelho de João proposto pela liturgia para este V Domingo de Páscoa inspirou a reflexão do Papa antes de rezar o Regina Coeli com os peregrinos na Praça São Pedro, em um domingo chuvoso em Roma.
Francisco começou explicando que o
Evangelho do dia nos leva até o Cenáculo, justamente “para nos fazer escutar
algumas das palavras que Jesus dirigiu aos discípulos no “discurso de
despedida”, antes de sua Paixão.
Depois de ter lavado os pés dos Doze, diz a eles:
‘Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei,
assim também vós deveis amar-vos uns aos outro’”.
“Em que sentido Jesus chama esse mandamento de
‘novo’?”, pergunta o Papa, recordando que “já no Antigo Testamento Deus havia
ordenado aos membros do seu povo para amar o próximo como a si mesmo”.
E o próprio Jesus – acrescenta o Santo Padre
– dizia a quem lhe perguntava sobre qual era o maior mandamento da Lei que “o
primeiro é amar a Deus de todo o coração e o segundo amar o próximo como a si
mesmo”. Então, qual é a novidade, porque o chama de “novo mandamento”?
O antigo mandamento do amor tornou-se novo, porque
foi completado com este acréscimo: “como eu vos amei”, “amai-vos como eu vos
amei”. A novidade está toda no amor de Jesus Cristo, aquele com o qual ele deu
a vida por nós. Trata-se do amor de Deus, universal, incondicional e sem
limites, que encontra seu ápice na Cruz. Naquele momento de extremo
rebaixamento, naquele momento de abandono ao Pai, o Filho de Deus mostrou e deu
ao mundo a plenitude do amor.
E foi pensando na Paixão e na agonia de Cristo, que
“os discípulos compreenderam o significado daquelas palavras: “Como eu vos
amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outro.”
Fragilidades
Jesus nos amou primeiro – recorda Francisco – nos
amou apesar de nossas fragilidades, nossas limitações e nossas fraquezas
humanas.
Foi Ele quem nos fez dignos de seu amor que não
conhece limites e nunca acaba. Ao nos dar o novo mandamento, ele nos pede que
nos amemos mutuamente não somente e não tanto com o nosso amor, mas com o seu,
que o Espírito Santo infunde em nossos corações se o invocarmos com fé. Deste
modo – e somente assim – podemos nos amar mutuamente não somente como amamos a
nós mesmos, mas como Ele nos amou, isso é, imensamente mais.
O amor de Deus por nós – afirmou o Papa – é muito
maior do que o amor que nós temos por nós mesmos. E tendo consciência disto,
“podemos espalhar por toda parte a semente do amor que renova as relações entre
as pessoas e abre horizontes de esperança”.
Jesus sempre abre horizontes de esperança, o seu
amor abre horizontes de esperança.
Um amor, que “nos torna homens novos, irmãos e
irmãs no Senhor, e faz de nós o novo povo de Deus, isto é, a Igreja, na qual
todos são chamados a amar a Cristo e n’Ele a amar-se mutuamente”.
O amor que se manifestou na Cruz de Cristo e que
Ele nos chama a viver é a única força que transforma nosso coração de pedra em
um coração de carne; a única força capaz de transformar o nosso coração é o
amor de Jesus, se nós também amarmos com este amor. E este amor nos torna capazes
de amar nossos inimigos e perdoar aqueles que nos ofenderam.
E o Papa faz uma pergunta, para cada um responder
em seu coração.
Sou capaz de amar os meus inimigos? Todos temos
pessoas, não sei se inimigos, mas que não estão de acordo conosco, que estão
“do outro lado”; ou alguém tem pessoas que lhe fizeram mal. Eu sou capaz de
amar estas pessoas? Aquele homem, aquela mulher que me fizeram mal, que me
ofenderam. Sou capaz de perdoá-los? Cada um responda em seu coração.
“O amor de Jesus – completou o Papa – nos faz ver o
outro como um atual ou futuro membro da comunidade dos amigos de Jesus; nos
estimula ao diálogo e nos ajuda a escutar-nos e conhecer-nos reciprocamente. O
amor nos abre para o outro, tornando-se a base dos relacionamentos humanos.
Torna capazes de superar as barreiras das próprias fraquezas e preconceitos.”
O amor de Jesus em nós cria pontes, ensina novos
caminhos, desencadeia o dinamismo da fraternidade.
Que a Virgem Maria nos ajude com sua materna
intercessão – foi o pedido do Pontífice ao concluir – a receber de seu
Filho Jesus o dom do seu mandamento e do Espírito Santo a força para praticá-lo
na vida cotidiana.
Ao saudar os peregrinos e os diversos grupos
presentes na Praça São Pedro, o Santo Padre dirigiu uma cordial saudação aos
responsáveis pela Comunidade de Santo Egídio, provenientes de diversos países;
aos peregrinos poloneses, em particular os escoteiros, acompanhados pelo
Ordinário Militar, vindos no 75º aniversário da batalha de Montecassino, mas
também às “Canonesas da Cruz, no centenário de sua fundação”.
(Com Vatican News)