Jesus mantinha uma intimidade inegável com o Pai, a ponto de ele próprio afirmar que ambos eram uma só realidade conforme podemos ler no Evangelho de São João 14,7-14: “Se me conhecesses, também certamente conheceríeis meu pais...Eu estou no Pai e o Pai está em mim”. Mais ainda Jesus nos convida a participar dessa intimidade quando “nos convida a permanecer no seu amor”: “Se alguém me ama [diz Jesus], guardará minha palavra e meu Pai o amará” (cf Jo 15,9-11 e Jo 14,21-26)
São Francisco de Assis, a exemplo de Jesus, subia nos montes da Itália para buscar essa intimidade com o Pai, de modo especial no Monte Alverne, onde teve uma grande experiência de Deus.
Os momentos de oração de São Francisco significavam o alimento necessário para que o santo de Assis pudesse “vencer o mundo”, isto é, “vencer-se a si mesmo”; cultivar o desapego das coisas terrenas e materiais, efêmeras e prejudiciais a alma, para ater-se às “coisas do alto” (cf Col 3,1) aprimorar-se como humano, buscar a perfeição do ser, assemelhando mais a Jesus, que é modelo de nossa humanidade, até nos identificarmos com ele (cf Gl2,20).
Foi mergulhar no mistério de amor do Deus, numa intimidade de Pai e Filho, que São Francisco compreendeu que tudo é Dom, tudo foi-nos dado para servir-nos a nosso fim, isto é, Deus nos doou toda a criação de modo que ela nos auxilie a alcançar a salvação.
São Francisco de Assis compreendeu que o desapego é fruir das coisas na medida em que nos auxiliam a alcançar a perfeição, a nos tornar mais humanos, a sermos mais semelhantes a Jesus.
É compreendendo a relação de São Francisco com a oração que conduz ao desapego que podemos diferenciar o sentido de oração e contemplação. A oração nos coloca numa relação direta com o Pai. Na oração somos filhos que convivem amorosamente com Deus que tudo nos oferta para que possamos ser melhor; por meio da oração nos tornamos capazes de diferenciar o uso correto das coisas criadas, isto é, quando uso nos aperfeiçoa como pessoas ou quando o uso dessas mesmas coisas se dão de forma a nos tornar menos humanos e materialistas, quando buscamos mais as coisas “de baixo” do que as coisas do alto”.
Por isso o franciscano na Providência procura fazer de sua vida uma constante oração, isso é, em seu trabalho e missão, nos seus momentos de lazer, de convivência com os irmãos. Tudo recolhe em seu dia para depois levar para a capela, e num gesto de gratidão, devolver ao Pai os dons oferecidos.
É a intimidade com o Pai, conseguida através da oração disciplinada e constante, que possibilita o franciscano na Providência contemplar o mistério de amor de Deus em cada uma das coisas e pessoas que o Senhor dispõe em seu dia-a-dia; é fruto dessa intimidade orante a capacidade de Ouvir a voz do Pastor e segui-la.
Uma vida vivida sem oração é como ser uma águia incapaz de voar e contemplar com os olhos do alto – com os olhos de Deus – todas as coisas criadas; é ser incapaz de vislumbrar a Beleza presente nas criaturas, que é sinal do Próprio Deus.
Frei Tarcísio, fnpd